Cada macaco no seu galho! Cada criança na sua cama!

Cada macaco no seu galho! Cada criança na sua cama!

Cada macaco no seu galho! Cada criança na sua cama!

 

        Ao nascer, o bebê vive uma fase de simbiose com a mãe, época na qual ele não tem entendimento de “onde ele termina e onde começa a mãe”.  É um aparelho psíquico em estruturação, apenas com as primeiras marcas mnêmicas registradas através de sensações. A partir da relação com a mãe, o bebê vai se constituindo enquanto pessoa e começa a entender que ele e a mãe são duas pessoas diferentes. Logo entra o pai em jogo, o terceiro, para separar a díade e ajudar este bebê a constituir-se como pessoa, em sua individuação. E esta estruturação vai se dando ao longo da infância, junto a toda formação de personalidade. 

       Poder dormir em seu berço desde o nascimento e poder dormir em seu quarto, sozinho ou com a presença de irmãos, faz-se fundamental para que esta estruturação psíquica se desenvolva de forma saudável.

      A criança que não consegue sair do quarto dos pais ou que volta a querer dormir com os pais, precisa ser ouvida e observada em seus anseios, em seu cotidiano. Esta dificuldade pode estar denunciando que algo consigo, com algum dos pais ou com a família possa estar interferindo na sua capacidade de separação e individuação e, consequentemente, no aumento da ansiedade.

       O relato de medos de monstros ou ETs vistos em filmes, livros ou jogos; o medo de ladrões ou bandidos ouvidos em relatos de adultos em sua presença podem ser as justificativas que a criança utiliza para denunciar suas angústias. O afastamento de alguém da família por trabalho, mudança, adoecimento, também pode contribuir para o aparecimento de sintomas como choros, manhas, reações agressivas, comportamentos regressivos que se evidenciam na dificuldade de separação.  Estes sintomas podem ser uma manifestação inconsciente de suas preocupações e desconfortos com situações relacionadas também com seus pais, que podem estar passando por problemas de relacionamento, como casamentos em declínio, conflitos sexuais, depressão de um dos pais ou familiares próximos. O suposto aparecimento do bicho-papão muitas vezes é a manifestação de que algo muito feio e perigoso está por aparecer. É a percepção infantil de uma situação familiar que os adultos possam estar vivenciando e que se mostram também inseguros e vulneráveis.

        Por isto, independentemente de qual for o motivo que está desencadeando a dificuldade de separação, precisa-se investigar e procurar resolver os problemas, para que não interfiram na saúde mental da criança. Caso contrário, as consequências recaem na formação da estrutura de personalidade da pessoa e poderão acompanhá-la pela vida toda.

          Portanto, crianças que dormem em seus quartos são mais saudáveis por conseguirem desenvolver a capacidade de ficar só, e serão adultos mais independentes, alegres e resolvidos em sua individuação para gozarem de uma vida plena com relações equilibradas.

Autor
Ângela Grubel Bandeira

Ângela Grubel Bandeira

Psicóloga especializada em Terapia de Casal e Família, Sexualidade Humana e Mestre em Psicologia